Projeto Portal foi uma revista de contos de ficção científica com periodicidade semestral, editada no sistema de cooperativa durante os anos de 2008 e 2010. A pequena tiragem — duzentos exemplares de cada número — foi distribuída entre acadêmicos, jornalistas e formadores de opinião. Seis números (de papel e tinta, não online). O título de cada revista homenageou uma obra célebre do gênero: Portal Solaris, Portal Neuromancer, Portal Stalker, Portal Fundação, Portal 2001 e Portal Fahrenheit.


Idealização: Nelson de Oliveira | Projeto gráfico e diagramação: Teo Adorno
Revisão: Mirtes Leal e Ivan Hegenberg | Impressão: LGE Editora

sábado, 1 de dezembro de 2012

postagem final





The future belongs to the few of us still willing to get our hands dirty

O futuro pertence àqueles poucos que ainda pretendem sujar as mãos.


(de ROLAND REINER TIANGCO. Via Warren Ellis e Get Shouty)

sábado, 10 de novembro de 2012

Lançamento de Todos os Portais: Realidades Expandidas


Nelson de Oliveira aposentou-se definitivamente da literatura em 1° de janeiro de 2012. Ele, a mulher e a filha saíram do país. Fontes pouco confiáveis afirmam que estão no Caribe, gozando de merecidas férias. Em cima de sua mesa de trabalho foi encontrada (quem encontrou? não sei, talvez a empregada, talvez um parente próximo) uma pasta endereçada ao amigo e editor da Terracota, Claudio Brites. Dentro da pasta estavam os contos selecionados por Nelson para a antologia Todos os Portais + o texto de apresentação + o sumário (ordem em que os contos deveriam aparecer no livro) + recomendações gerais quanto à capa e o projeto gráfico. Havia também um bilhete endereçado ao editor: “prezado amigo, publique quando achar conveniente”.


E este é o momento. Dia 24 de novembro, após o III FECON, acontece o coquetel de lançamento da antologia Todos os Portais – realidades expandidas. Uma edição de colecionador, para este que é/foi um dos maiores projetos da literatura de gênero nacional.


A edição reúne alguns textos publicados nos seis volumes da revista independente Projeto Portal, que conta com os autores: 


Ana Cristina Rodrigues, Ataíde Tartari, Braulio Tavares, Brontops Baruq, Carlos Emílio C. Lima, Claudio Brites, Fábio Fernandes, Geraldo Lima, Ivan Hegenberg, Jacques Barcia, Laura Fuentes, Luiz Bras, Marco Antônio de Araujo Bueno, Maria Helena Bandeira, Mayrant Gallo, Mustafá Ali Kanso, Petê Rissatti, Ricardo Delfin, Richard Diegues, Roberto de Sousa Causo, Tiago Araújo.


Quando? 
Sábado, 24 de Novembro de 2012, a partir das 15h30.

Onde?
Biblioteca Viriato Corrêa
Rua Sena Madureira, 298
Vila Mariana – 04021-050 São Paulo, SP



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Voyager 2 e a saudação de paz dos terrestres






(Texto de Steven Pinker dentro do livro "Como a mente funciona" (Cia das Letras). Itálicos meus)


"Em algum lugar além das fronteiras de nosso sistema solar, arrojando-se pelo espaço interestelar, há um fonógrafo e um disco dourado com instruções hieróglifas na capa. Foram colocados na sonda espacial Voyager 2, lançada em 1977 para nos transmitir fotografias e dados dos planetas distantes de nosso sistema solar. Agora que passou por Netuno (o livro foi escrito originalmente em 1997) e sua emocionante missão científica está encerrada, ela serve como um cartão de visita interplanetário que deixamos para algum viajante espacial extraterrestre que possa vir a pescá-la.

O astrônomo Carl Sagan foi o produtor do disco; ele escolheu imagens e sons que sintetizam nossa espécie e nossas realizações. Sagan incluiu saudações em 55 línguas humanas e uma "língua de baleia" (assistam a Procurando Nemo e o baleês), um ensaio sonoro de doze minutos composto do choro de um bebê, de um beijo e de um registro de eletroencefalograma das meditações de uma mulher apaixonada, além de noventa minutos de música, com exemplos de diferentes culturas do mundo: mariachi mexicana, flautas-de-pã peruanas, raga indiana, um cântico noturno navajo, uma canção de iniciação para meninas pigméias, uma música sakuhachi japonesa, Bach, Beethoven, Mozart, Stravinsky, Louis Armstrong e Chuck Berry cantando "Johnny B.Goode".

O disco também envia uma mensagem de paz de nossa espécie para o cosmo. Em um involuntário ato de humor negro, a mensagem foi proferida pelo secretário-geral das Nações Unidas na época, Kurt Waldheim. Anos depois, historiadores descobriram que Waldheim passara a Segunda Guerra  Mundial como oficial do serviço secreto em uma unidade do exército alemão que perpetrou represálias brutais contra guerrilheiros da resistência nos Bálcãs e deportou a população judaica de Salonica para campos de concentração nazistas. É tarde demais para chamar a Voyager de volta, e essa piada sarcástica sobre nós circulará para sempre pelo centro da Via Láctea."


domingo, 4 de novembro de 2012

A última carta






Caros leitores,




Como a maioria de vocês já sabe, durante três anos, seis portais foram abertos no mapa da literatura brasileira. Seis passagens para outros mundos, outros metabolismos, outros sistemas de pensamento.
Portal Solaris surgiu no verão e Portal Neuromancer na primavera de 2008, Portal Stalker irrompeu no verão e Portal Fundação no outono de 2009, Portal 2001 apareceu no inverno e Portal Fahrenheit na primavera de 2010.

O Projeto Portal foi uma revista de contos de ficção científica editada no sistema de cooperativa. A pequena tiragem de cada número foi paga pelos participantes e os exemplares foram divididos entre eles.

O Projeto Portal não se destinava ao grande público, mas apenas ao pequeno grupo de aficionados mais refinados. Nosso lema era: poucos exemplares para poucos leitores exemplares. Por isso os exemplares da revista não foram vendidos, eles foram distribuídos entre os melhores leitores do país.

Para vocês terem uma ideia da dimensão do Projeto Portal, aí vão alguns números: foram 6 edições, 798 páginas, 44 autores, 129 contos (50 curtos, de até 3 páginas, e 79 longos) e 2.450 exemplares. Nada mal para um empreendimento sem qualquer finalidade comercial, cujo objetivo primeiro foi divulgar a boa ficção científica brasileira.

Todos os portais: realidades expandidas é uma seleção de narrativas dos seis números do Projeto Portal. São vinte e um contos, vinte e um autores. Agora em edição comercial.

Imaginem delicados psicotrópicos artificiais capazes de abrir as portas da razão e os portões da percepção. Imaginem sutis substâncias alucinógenas capazes de estimular a fantasia e a inteligência, sem provocar danos neurológicos irreversíveis. Todos os portais são essas drogas seguras.

Através deles a realidade de primeira ordem — o aqui e o agora percebidos pelos cinco sentidos — irá se desdobrar em outras realidades muito mais estimulantes: a da ciência, a da filosofia, a da arte e a da religião, todas de segunda ordem.

Outras leis físicas, metafísicas e patafísicas irão coordenar as constelações sensoriais.

O passeio por essas paisagens de segunda ordem, habitadas por personagens estranhos e sedutores, nunca é sossegado e monótono. É sempre perigoso e inquietante. E, por isso, muito prazeroso.


Boa transmigração.


Nelson de Oliveira

sábado, 3 de novembro de 2012

Shiroma Matadora Ciborgue


 “Shiroma, Matadora Ciborgue” surgiu dentro do “Projeto Portal”, uma série de seis revistas semestrais de contos de ficção científica editada por Nelson de Oliveira entre 2008 e 2010. A trans-humana Shiroma é uma assassina hesitante, raptada da Terra ainda criança e levada por um casal de mercenários, Tera e Tiago, para ser treinada como matadora de aluguel.
  
A primeira narrativa, “Rosas Brancas” (em Portal Solaris), trata do seu sequestro e de como sua mãe, Nara Nunes, foi morta. “Concha do Mar” (Portal Neuromancer) conta como ela encontrou uma concha do mar em um mundo alienígena onde fora levada para um teste de sobrevivência, uma concha que simboliza a sua angústia íntima com o sequestro e a morte da mãe, que, na mente de Shiroma, passa a habitar, como voz incorpórea, o interior da concha. “O Novo Protótipo” (Portal Stalker) conta como ela realizou o seu primeiro assassinato, no Bairro da Liberdade, em São Paulo. “Cheiro de Predador” (Portal Fundação) mostra a heroína um pouco mais senhora de si como matadora, ao penetrar, com a ajuda de dois alienígenas, a segurança de um mundo altamente vigiado. Em “Arribação Rubra” (Portal 2001) ela cai em um ponto obscuro de um planeta alienígena, quando o seu veículo é sabotado a caminho de uma nova missão. Finalmente, em “Tempestade Solar” (Portal Fahrenheit), a matadora se defronta com o passado, e prepara violentamente o seu futuro — a ser desenvolvido em outras histórias.

“Tempestade Solar” será republicada em novembro de 2012, na antologia Todos os Portais: Realidades Expandidas (Terracota Editora), organizada por Nelson de Oliveira.
      
A série partilha do mesmo universo ficcional das aventuras de Jonas Peregrino, um herói de space opera militar que estreou com a noveleta “Descida no Maelström”, publicada em 2009 na antologia Futuro Presente, organizada por Nelson de Oliveira para a Editora Record, do Rio de Janeiro. Outras aventuras de Peregrino apareceram nas antologias Assembléia Estelar (Devir), editada por Marcello Simão Branco, e Space Opera: Jornadas Inimagináveis em uma Galáxia Não Muito Distante (Draco), editada por Hugo Vera & Larissa Caruso.

Nesse projeto, os dois personagens principais, Shiroma e Peregrino, irão se encontrar mais adiante, as duas séries se entroncando em uma única narrativa — uma vasta e complexa space opera.


 (Imagem: selo destinado às narrativas da série “Shiroma, Matadora Ciborgue”, em arte original de Vagner Vargas)


 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Todos os Portais





Nelson de Oliveira aposentou-se definitivamente da literatura em 1° de janeiro de 2012. Há quem diga que sua família saiu do país. Estariam no Caribe, gozando de férias.

(Merecidas? Não sei. Sofro fobia do Caribe desde que li o Triângulo das Bermudas, de Berlitz. Sempre imagino aviões desaparecendo e naufrágios interdimensionais. Ok, as Bermudas não são o Caribe. Para mim, soa a mesma coisa, cenários de 007, republiquetas, revolucionários, bodegas, saias curtas, bananas, furacões, mares parasidíacos e pesadelos ocultos. Seja como for,)

a cunhada de Nelson de Oliveira encaminhou um conjunto de papéis para Claudio Brites, editor da Terracota. Sobre a mesa do apartamento, ela encontrou esta pasta na qual estavam os contos selecionados para a antologia Todos os Portais, bem como o texto de apresentação, o sumário, recomendações quanto ao projeto gráfico e à capa. Havia também um bilhete: "Prezado amigo, publique quando achar conveniente"

Este é o momento.

 



(Imagem R2D2, versão Piratas do Caribe, por Nook)

domingo, 28 de outubro de 2012

Colecção Argonauta






(Capa de "O Mundo dos Draags" de Stefan Wul, que originou "O Planeta Selvagem" ou "O Planeta Fantástico" de René Laloux)




O blog da "Colecção Argonauta" pretende ser "... uma homenagem (...), um memorial que esperamos possa contribuir para esclarecer possíveis dúvidas relativas aos números publicados, bem como constituir um espaço de partilha, onde comentários relativos às obras possam ajudar a enriquecer o vasto universo de memórias aqui reunido."

Segundo o Wikipedia, a Colecção Argonauta foi publicada de 1954 até 2006 com 563 edições de bolso, repleta de figurinhas e figurões (Aldiss, Heinlein, Bradbury, Asimov, Farmer, Clarke, Herbert, Dick, Le Guin, Ballard, Capek). Parece piada, mas apesar de ser publicada por uma editora chamada "Livros do Brasil", a venda dos livros era "interdita na República Federativa do Brasil".  Proibida ou não, parte da coleção chegou ao país, conforme vemos neste artigo - já um tanto antigo (2006) - de Roberto de Sousa Causo para a Terra Magazine, "A Leitura faz o Leitor" que reproduzo (copio/colo) aqui embaixo.

"
Quando comecei a participar da comunidade brasileira de ficção científica, lá por 1983, foi difícil para mim entender o fascínio que a Coleção Argonauta exercia sobre os outros fãs - especialmente os mais velhos, reunidos em torno do Clube de Leitores de Ficção Científica.

Eu pouco ouvira falar da coleção - afinal, cresci lendo a FC encontrada na série alemã Perry Rhodan, nos livros de FC da Hemus, na coleção Mundos da Ficção Científica, e nos livros de FC publicados pela Bolsilivros que eu podia encontrar em bancas de revista na cidade interiorana em que vivia.

De fato, só passei a compreender o encanto que a Argonauta exercia sobre os fãs mais velhos a partir do instante em que me voltei para o meu próprio fascínio por Perry Rhodan e pela Mundos da Ficção Científica, e percebi que cada geração tem a sua coleção ou as suas coleções formadoras.

Isso acontece porque, em geral, o fã de FC é alguém que retorna seguidamente ao seu interesse pelo gênero e nisso, ele precisa ser alimentado de alguma maneira. Nos Estados Unidos, tal papel por muito tempo coube às revistas especializadas. Ainda hoje elas são o celeiro dos melhores autores e dos fãs mais fiéis. Já em outras partes do mundo - especialmente no mundo de fala portuguesa ¿ o papel muitas vezes cabe às coleções.

A Argonauta, da Livros do Brasil (Portugal), certamente se salienta nessa tarefa de gerar e manter os fãs do gênero por sua antigüidade, periodicidade e pelo preço em geral acessível. Houve um tempo em que seus livros chegavam a uma boa parcela das livrarias brasileiras, e até mesmo a algumas bancas de revista, se não estou enganado.

No final da década de 1980, eles começaram a escassear e, durante os anos noventa se concentraram em umas poucas livrarias que ainda buscam permitir que os leitores brasileiros mantenham contato com o mundo editorial português. Em uma delas, a saudosa Livraria Paisagem, o Clube de Leitores de Ficção Científica realizou suas reuniões mensais por muitos anos. Outra é a Themus Livros, também de São Paulo.
O CLFC, aliás, também nasceu associado ao fenômeno dessa coleção ¿ em 1985 o fã R. C. Nascimento publicou em edição do autor o livro Quem É Quem na Ficção Científica Volume I: A Coleção Argonauta, com a famosa ficha de inscrição na última página, pedindo que outros fãs lhe escrevessem para montar o que ele chamou de "Clube de Leitores de Ficção Científica".

Nascimento escolheu bem a plataforma para o seu gesto de comunicação com outros fãs - aparentemente a Argonauta já despertava paixões entre pessoas que não se conheciam, e que se sentiram entusiasmadas com a descoberta de outros "semelhantes".

E assim foi que a Coleção Argonauta se tornou o componente de uma subcultura nacional que, por suas origens, comunica-se com uma vasta subcultura global formada por fãs de FC e fantasia em todas as partes do mundo.

Não sei se o apelo da coleção é tão forte em seu país de origem quanto o é entre nós, pois Portugal teve e tem várias coleções de importância e prestígio, algumas mais conhecidas dos fãs mais jovens, como a Ficção Científica Europa-América, e a Caminho Ficção Científica; esta última, agora cancelada, foi por um bom tempo o refúgio derradeiro do autor de FC em língua portuguesa, em ambos os lados do Atlântico, pela atuação do editor António Belmiro Guimarães.

Voltando à tese destas linhas, cada geração de fãs possui em coleções distintas os seus formadores, os motivadores daquela chama insubstancial e de difícil definição, que faz o fã de FC.

A Argonauta certamente formou a geração mais nobre do fandom brasileiro - fãs empreendedores como o próprio Nascimento, que, ao fundar o CLFC, criou uma pequena revolução; seu parceiro nos anos iniciais, Ivan Carlos Regina; e outros que se alternaram na direção do clube, incluindo Luiz Marcos da Fonseca e Humberto Fimiani.

Mas o que isso significa?

Em parte, a certeza de que os escritores publicados na Argonauta detém um lugar especial no coração desses fãs. Autores como Clifford D. Simak, Robert A. Heinlein, A. E. van Vogt, Isaac Asimov, Ray Bradbury, Philip José Farmer, Ursula K. Le Guin, Robert Silverberg, Frederik Pohl, Philip K. Dick e mais um monte de autores franceses, provavelmente conhecidos apenas dos leitores da Argonauta. Nesse mesmo sentido, significa que o tipo de FC encontrada na coleção tem igualmente um lugar especial no coração desses fãs. A coleção se tornou um lar para todos eles.

Talvez aqueles que, como eu, devem algo a Perry Rhodan, FC Hemus, e à Mundos da Ficção Científica, tenham outros autores e uma outra ficção científica em mente - embora muitos deles tenham aparecido também na Argonauta.

Mas não acho que isso cause um, digamos, "abismo" entre gerações de fãs brasileiros. O que parece ser o problema maior passa longe dessa consideração. Ao contrário, ele se refere justamente ao fim das coleções no Brasil, e a dificuldade das coleções portuguesas em serem distribuídas e lidas aqui. Sem um lar, sem um abrigo, como podem os novos leitores, os novos fãs, surgirem?

Minha suspeita é de que não podem. A ponte fica incompleta, então. Aqueles fãs que já estão por aí há algum tempo cada vez mais recorrem aos livros em inglês, mas eles já passaram pelo seu período formador lendo alguma coisa em português, a Argonauta provavelmente.

O futuro da comunidade brasileira de FC se torna uma incógnita. Haverá uma nova geração, e formada através do quê? Do cinema, que parece ter destruído a FC nesse meio, justo agora que as imagens geradas por computador prometem um realismo nunca antes alcançado pelo gênero - e níveis de imbecilidade também nunca alcançados, nem mesmo na infantil FC da década de 1950? Serão os novos fãs garimpeiros de sebo, revirando o passado editorial brasileiro e português, em busca do que os inspire?

Resta torcer para que surja uma outra coleção, como aquela prometida este ano pela Devir, de São Paulo."


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

War of Planets - Shadow Raiders









Shadow Raiders, um bom desenho animado de ficção científica "space-opera" da década de 90 que se perdeu em meio a avalanche de produções desta época. Teve apenas duas temporadas e sua história permanece sem conclusão. Hoje, praticamente esquecido, continua cultuado por meia dúzia de gatos pingados.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Realidades Expandidas





Prepare-se


TODOS OS PORTAIS: REALIDADES EXPANDIDAS






sábado, 20 de outubro de 2012

A quantas anda a astronomia amadora, por Vanessa Barbara


(Via Folha, em 07/10/2012)


De rosto redondo e bochechas fartas, o dr. Aristóteles Orsini formou-se em medicina em 1933 pela Universidade de São Paulo. No ano seguinte, defendeu a tese de doutorado "Fermentos Amilolíticos Encontrados em Sementes de Leguminosas", e pouco depois assumiu a cadeira de professor-assistente de física da Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP.

Em 1935, foi aprovado em concurso de livre-docência com a tese "Algumas Constantes Físicas de Tinturas Oficinais". Chegou a chefe do Serviço de Radiologia da Escola Paulista de Medicina. Em 1947, tornou-se catedrático de física com a tese "Isótopos Radioativos". Outro destaque de sua produção é o artigo "O Emprego dos Raios X no Estudo dos Expectorantes".

Filatelista e numismata, o prof. Orsini também fundou a Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo (AAA) e foi diretor da Escola Municipal de Astrofísica (EMA), anexa ao planetário do Ibirapuera, que hoje leva seu nome.

O patrono da astronomia amadora ilustra bem o perfil de quem estuda informalmente os astros no Brasil. São cerca de 4.000 entusiastas, de geólogos a pedagogos, além de engenheiros, arquitetos, matemáticos, médicos e curiosos que se reúnem para desvendar o céu, voltando às carteiras escolares em anacrônicas discussões sobre nebulosas, supernovas e cometas, essas "estranhas estrelas de cabelos longos".

FUNDAMENTOS
 
No auditório da EMA, 18 alunos tiveram um semestre de aulas sobre os fundamentos da ciência --o curso 250, Astronomia Geral. O professor, Paulo Gomes Varella, é um efusivo senhor de bigodes que lembra um docente dos tempos de ginásio, daqueles que tentam transmitir aos alunos seu vasto amor pelas equações de segundo grau.

As aulas, nas tardes de quinta, tiveram início em março de 2011, num prédio vizinho ao planetário do parque do Ibirapuera. A despeito das expectativas depositadas no moderno sistema de fibra óptica do novo projetor alemão StarMaster ZMP, só a última aula foi realizada no planetário --as demais se deram em diminutas salas com lousas brancas e projetores de PowerPoint. Os cursos têm uma taxa única que varia de R$ 18 a R$ 36.

Varella, 55, tem sotaque paulistano carregado e é um trocadilhista incansável. Tem formação em geologia e meteorologia (USP) e pós em ensino de astronomia (Unicsul). Dá aulas na EMA desde 1976, foi chefe do Observatório Astronômico da instituição e publicou "Reconhecimento do Céu" (Editora UnB, 1991, esgotado), além de cartas celestes e guias práticos para observação de estrelas, constelações e chuvas de meteoros. É o expositor mais ativo da história do planetário, com 1.750 apresentações ao vivo das sessões de cúpula.

Fundada em 1961, a EMA oferece cursos introdutórios (Reconhecimento do Céu e Astronomia do Sistema Solar) e avançados, como Cosmologia, Mecânica Celeste, Evolução Estelar e Astronomia Esférica.
Nas aulas básicas, o professor discorre sobre os sistemas solares, conjunto de astros cuja principal interação é gravitacional, e sobre os planetas, "corpos errantes que caminham entre as estrelas". Dá uma informação básica que quase ninguém sabia: a principal diferença observacional entre estrelas e planetas é que eles não "piscam" --são pontos de luz fixa, sem a cintilação característica das estrelas.
Ao contrário dos asteroides, que vivem envoltos em poeira e são astros batatiformes (de massa pequena e alongada), planetas têm massa suficiente para assumir forma esférica e limpar a vizinhança, isto é, sua órbita. Asteroides também não têm atmosfera e, por isso, são cravejados de crateras provocadas pelo impacto com outros corpos celestes (o que o professor chama de celulite astrofísica). Em relação aos planetas, asteroides têm dimensões muito pequenas.

A turma anotou com fúria discreta informações sobre a observação de Saturno, que no ano passado atingiu um brilho considerável, e surpreendeu-se com a notícia de que em São Paulo é possível ver cinco planetas a olho nu: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. (Intrépida, a repórter conseguiu identificá-los ao longo do ano, com destaque para a notável inclinação de Saturno e as quatro luas de Júpiter. A título de gabolice, dizem que Copérnico, em seu leito de morte, confessou jamais ter visto Mercúrio.)

Aos que não possuem familiaridade com as constelações e não se sentem à vontade com planisférios de papel, Varella indica um software de astronomia para iPhone: o Stellarium, que é grátis e reconhece os astros por GPS, basta apontar o aparelho para o céu.

O professor falou da inclinação das órbitas dos planetas com relação à eclíptica (órbita da Terra) e da razão pela qual estamos todos amarfanhados em torno do Sol (atração gravitacional entre massas). Explicou por que em 1986 não vimos o cometa Halley com o mesmo esplendor de 1910 --é que, no início do século, o ângulo de visão foi de 90 graus, sendo possível observar todo o seu comprimento.

Segundo relatos da época, e conforme registrado em "A Comet Called Halley", de Ian Ridpath (Cambridge University Press, 1985), em 1910 a cauda do cometa chegou a varrer a Terra, gerando boatos apocalípticos de toda sorte. Varella alerta que não é possível prever o ângulo da próxima passagem, em 2061, já que o astro percorre um longo caminho e sua órbita é alterada por gigantes como Saturno e Júpiter.
As variáveis são múltiplas e complexas, ou seja, astronômicas. "Você acha isso complicado?", repetia o professor, a respeito de qualquer coisa. "Complicados são os cálculos das órbitas dos astros."
Também complicados são os movimentos da Terra, que não se limitam à rotação e translação; incluem precessão dos equinócios, nutação, variação da excentricidade da órbita, variação de latitudes da obliquidade da eclíptica, deslocamento da linha dos apsides, rotação da Via Láctea e, ufa, movimento de expansão do Universo.

Na astronomia, afirma Varella, "abandonam-se as unidades convencionais de medida, do contrário os números ficariam desconfortáveis". É por isso que, em vez de quinquilhões de quilômetros, usam-se parsecs e anos-luz --que, a propósito, são unidades de comprimento, não de tempo. "Não faz sentido dizer: 'Faz uns dez anos-luz que não te vejo.'" Apesar de tudo, é difícil conceber essas distâncias de fato.
Um amargurado Varella não resistiu à piada e disse que Halley passa uma vez a cada 76 anos e pode ser visto durante só quatro meses: "É como a vida do ser humano, uns quatro meses de felicidade e o resto de martírio. Quando muito".

AMADORES

A astronomia é uma das poucas áreas em que os amadores são maioria e contribuem com a comunidade científica profissional, dada a investigações mais segmentadas, sem tantas observações diretas por telescópios. Suas pesquisas envolvem registros eletrônicos, análises de dados em laboratório, exercícios de matemática bruta e desenvolvimento de teorias.

Os amadores, por sua vez, perscrutam o céu à moda antiga --com telescópios e binóculos de menor porte--, sem depender de orçamentos apertados e da onerosa locação de aparelhos em observatórios internacionais. Seus diminutos instrumentos favorecem explorações que volta e meia complementam a dos profissionais: acompanhamento intensivo de asteroides, galáxias, manchas solares, exoplanetas, cometas e a Lua.

Alguns são excelentes construtores de telescópios. Uma área que está praticamente nas mãos deles é a de estrelas variáveis (sistemas binários), para a qual, segundo Varella, "ninguém tem saco".
Trata-se de observar estrelas que, com o tempo, variam de brilho. Isso pode ser causado por mudanças internas da estrela ou por influência externa, como um eclipse entre estrelas de um sistema binário. Trabalho de paciência e observação bruta, uma braçal coleta de dados relegada aos amadores.
Uma sistematização nacional dos trabalhos desses diletantes de países latinos aconteceu em 1988, com a fundação da Rede de Astronomia Observacional (REA), que zela pelo rigor no método e na coleta dos dados, para que se prestem a trabalhos científicos.

O forte da REA é a descoberta de supernovas, estrelas maciças que, num estágio avançado de evolução, explodem, emitindo um brilho intenso, para depois ir perdendo o fulgor. Nos últimos sete anos, 15 delas foram reveladas pelo programa de busca Brazilian Supernovae Search, desde 2001, em parceria com o Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais.

Outro exemplo digno de nota é a descoberta de um cometa na noite de 28 de dezembro de 2002 por um brasileiro da REA, o gaúcho Paulo Holvorcem, em conjunto com um norte-americano. O cometa foi batizado de Juels-Holvorcem.

Assim, embora a denominação "astrônomo amador" remeta ao diletantismo, muitos desenvolvem estudos científicos, coordenam trabalhos e publicam resultados em revistas especializadas --a diferença é que não possuem formação acadêmica específica. O exemplo mais lendário é o de Clyde Tombaugh, agricultor norte-americano que construiu um telescópio usando partes de um Buick 1910 e peças de uma batedeira de leite de sua fazenda.

Tombaugh observava e desenhava tudo o que lhe parecia interessante no céu. Um dia, encaminhou suas anotações ao Observatório Lowell, no Arizona, em busca de conselhos. Para seu espanto, ofereceram-lhe um emprego como astrônomo assistente.

Em 1929, foi contratado para levar a cabo uma pesquisa iniciada em 1905 por Percival Lowell. O alvo era um "planeta X", localizado para lá de Netuno. Dez meses mais tarde, em 13 de março de 1930, após passar noites em claro na cúpula gélida do observatório, Tombaugh, 24, passaria à história como o descobridor de Plutão.

SURPRESA
 
Um tanto afastados das grandes descobertas, vários alunos da EMA foram pegos de surpresa pela notícia de que as estrelas estão (muito) mais distantes de nós do que os planetas. Se a Terra estivesse localizada na Escola de Astrofísica e Netuno no lago do Ibirapuera, Alpha Centauri estaria em Queluz (a 220 km de São Paulo), viagem que levaria 104 mil anos só de ida. (Também chamada de Toliman, ela é a estrela mais próxima da Terra além do Sol.)

A classe era formada por alunos de diferentes idades e profissões. O mais novo era John Riedel, 13, estudante do oitavo ano do ensino fundamental e apaixonado por astronomia via Discovery Channel. Havia um senhor peruano chamado Iván Palacios, que sempre chegava cedo, um casal de aposentados aficionado por softwares de astronomia, o jornalista Jorge Luiz de Souza e uma ex-bailarina e personal trainer, Ana Maria Pereira, 52, que ficou impressionada com a didática do professor.

"Como ele de fato gosta de astronomia, conduz o curso com tanto carinho que não há como não aprender e se encantar com o universo", declarou. "Acho que, pela minha profissão, movimento é algo que me encanta e nada melhor que estudar o universo para entendê-lo melhor."

A estudante de administração Janisse Paiva de Oliveira, 26, participa de quase todas as atividades da EMA. Cursou Reconhecimento do Céu I simultaneamente a Física Estelar (Introdução à Astrofísica), com Irineu Gomes Varella, e achou esta última bem complexa. "Aprendemos sobre a temperatura dos corpos celestes, as distâncias, a paralaxe, o teorema de Pitágoras e espectroscopia", explicou. "Tinha muita gente fazendo contas."

Num folder da escola, o artista Guto Lacaz confessou matricular-se em um ou dois cursos por semestre: "Comecei com Astronomia Geral, com a professora Regina Atulim. Cometas, Astronomia Esférica, Sistema Solar, Eclipses, Efemérides, Tempo e Calendários... Reconhecimento do Céu, Evolução Estelar... já fiz alguns três vezes!", exclamou, elogiando os professores Paulo e Irineu Varella. "Conhecimento, bom humor e giz!"

A escola também oferece palestras esporádicas sobre outros temas, como "Astronomia com o Planeta Mercúrio", ocorrida num sábado à tarde, e uma série em homenagem à Semana de Radioastronomia, em outubro de 2011. Numa aula, ministrada por um jovem professor da UFRJ, falou-se das descobertas cosmológicas obtidas pela sonda WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) com a radiação de fundo da nossa galáxia. É uma das mais fortes evidências observacionais do modelo do Big Bang de criação do universo.

Comentou-se o formato peculiar das imagens, muito parecido com o emblema do Batman. Fora isso, o resto da exposição foi praticamente incompreensível. "Mede-se o espectro de potência em função do ângulo e momento do multipolo", explicou o rapaz, com a ajuda de gráficos inexpugnáveis e equações igualmente escandalosas. Alguém fez uma pergunta cuja resposta era "18 avos de segundo". Diante do silêncio, ele passou para sua especialidade: nuvens moleculares e astroquímica.

Quando desandou a falar de um tal espectro "maser", suspeitou-se que estivesse inventando e alguns desistiram de tentar entender. A introdução à astronomia geral parecia mais ao alcance dos comuns mortais. Uma revelação banal que causou espécie na turma foi a de que os meteoroides, ou cometas, têm o tamanho de uma ervilha. "Ervilha, feijão, grão-de-bico. Os maiores são do tamanho de laranjas", explicou Varella, creditando o alto brilho dos cometas a um fenômeno de ionização decorrente de sua altíssima velocidade ao entrar na atmosfera terrestre.

FURAQUINHOS

Em 20 horas-aula, até o fim do semestre, falou-se da diferença entre planetas telúricos e jovianos --os primeiros têm composição química e densidade próximas às da Terra; os últimos, gasosos, são parecidos com Júpiter.

Este, aliás, gira tão velozmente que tem faixas gasosas alinhadas no sentido de sua rotação --vista a olho nu, a famosa estrutura em forma de olho tem 3,5 vezes o tamanho da Terra, e é provavelmente uma tempestade colossal que vem ocorrendo há três séculos. "Uma espécie de furacão, sendo que, perto dele, os nossos são 'furaquinhos'", comparou Varella.

O professor também informou que "se jogássemos os planetas na água", todos afundariam, menos Saturno, que tem a densidade menor do que uma rolha e, portanto, boiaria". Outra informação importante: Galileu Galilei não identificou os "anexos" laterais do planeta como anéis: pensou que se tratasse de um astro triplo. Na mesma época, outros foram mais criativos: concluíram que Saturno era dotado de orelhas.

Palmeirense roxo e fã da série "Arquivo X", Varella é uma unanimidade. Sempre de bom humor, compartilha o vício pela astronomia com o irmão Irineu, 59, e com a mulher, Regina Atulim, 48, ambos professores da EMA. "É uma família de loucos. Imagina como são as nossas conversas em casa."

Varella é diretor do Observatório Céu Austral, entidade fundada em 1987 para difundir a astronomia e as ciências da Terra. Ele costuma dizer que fez tudo errado: se tivesse escolhido a astrologia e batizado o grupo de "Seu Astral", em vez de "Céu Austral", certamente ganharia mais dinheiro.

Interessou-se pela ciência aos 14, trabalhando como guia do relógio de sol e sonoplasta do planetário. Tem um vozeirão de dublador. Sabe contar histórias e prender a audiência; seu relato sobre a sequência de Titius-Bode --controversa equação criada para calcular distâncias planetárias-- deixou todos grudados na cadeira. Guarda na memória uma infinidade de distâncias interestelares, dimensões, volumes, composições químicas e temperaturas.

Ele ensina como coletar meteoritos em casa, descreve os siderólitos como se fossem pés-de-moleque (sendo os amendoins as partes rochosas) e confessa, emocionado, que gostaria de ter conhecido Hiparco (morto c. 127 a.C.) pessoalmente. Varella crê na possibilidade de vida fora da Terra, mas "daí a dar um passo além e acreditar em OVNIs, é outra história".

Fala com entusiasmo da Cratera de Colônia, que ninguém na classe conhecia e que é praticamente ignorada no meio acadêmico. Localizada na Zona Sul de São Paulo, em Parelheiros, tem 3,6 km de diâmetro e foi possivelmente provocada pelo impacto de um meteoro de cerca de 200 metros, há uns 5 milhões de anos. Sua profundidade máxima é de 400 metros.

Desde 1989, a área foi ocupada por loteamentos irregulares que surgiram com a instalação do Presídio de Parelheiros no interior da formação geológica. Segundo a prefeitura, hoje há 30 mil pessoas morando em Vargem Grande, em porções internas e externas da cratera. A ocupação desconfigurou parte da borda, mas, vindo pela estrada de Colônia, lá de cima dá para ver o contorno da estrutura. "Provavelmente o meteorito ainda está encravado lá dentro", diz Varella, lamentando a escassez de escavações científicas na área.

Na última aula do semestre, ele obteve autorização para abrir uma vitrine onde estão expostos os meteoritos. Com as duas mãos, tomou um fragmento do segundo maior meteorito do Brasil, o Santa Luzia, caído em Goiás, em 1919. Do tamanho de uma bola de boliche, ele foi passando de mão em mão. O Santa Luzia é feito de uma liga metálica inexistente na Terra, composta quase que exclusivamente de ferro e níquel de altíssima densidade. A idade estimada é de 4 bilhões de anos. "Quero que vocês tenham a sensação de tocar em um corpo celeste que não a Terra", explicou.

Um aluno conta que foi um desses momentos em que entendemos uma coisa não só com a mente, mas com o corpo, com a pele. "Lembro quando li pela primeira vez que estamos em cima de uma pedrinha que flutua no espaço", comentou. "O frio, o arrepio que tive ao pensar nisso me deixou quase paralisado. Deu até vertigem."

O objeto pesa 22 kg --bolas de boliche têm até 7,25 kg--, ou seja, só pode ser feito de um material muito condensado e singular. Uma rocha densa, gelada e metálica que veio do espaço. "Vou falar de novo: VEIO DO ESPAÇO!", ressaltou uma aluna, ainda incrédula.

OBSERVATÓRIO

Olhando de longe, mais precisamente de um telescópio dobsoniano, até parece que a Escola Municipal de Astrofísica é um centro de excelência internacional com verba milionária, equipamentos modernos e total subsídio do governo. Se a estrutura funciona, é por pura tenacidade dos envolvidos, sobretudo os professores.

No último sábado de cada mês, o planetário organiza uma sessão noturna de observação com telescópios na laje da escola. "A gente tenta, na medida do possível, promover essa atividade", comentou o diretor dos planetários da cidade, João Paulo Delicato, um rapaz de voz calma que é também coordenador da Sociedade Brasileira para o Ensino da Astronomia. Ele está no comando dos planetários desde janeiro de 2011.

Como todo bom astrônomo amador, Delicato começou com uma licenciatura em ciências exatas, passou a pesquisador do departamento de Física da Universidade Federal de São Carlos e criou o Laboratório de Magnetohidrodinâmica da USP. Trabalhou nos planetários de Brotas e de Campinas e acabou presidente da Associação Nacional de Foguetes Amadores, a ANFA.

Ele se considera na obrigação de promover esses eventos ao público apesar da precariedade das instalações do terraço, que possui fios de radiotelescópio espalhados pelo caminho e inexplicáveis reentrâncias arquitetônicas que tapam partes do céu e deixam as laterais da laje completamente vazadas. "Pra vocês terem uma ideia, o arquiteto que fez o planejamento do prédio da EMA tinha decidido que o espaço de observação com cúpula ficaria só de enfeite para a população passar e olhar", explicou.

Daí a necessidade de orientar bem o grupo antes das observações. "A laje é aberta e vazada, então, quem está com criança pequena, por favor fique de olho, segurando a mão. Nada de correr. Até porque a gente não pode deixar a luz acesa com muita intensidade, senão ofusca a observação", explanou Delicato a uma plateia de aproximadamente cinquenta pessoas. A maioria nunca tinha usado um telescópio.

Ele prosseguiu: "Lá em cima está muito escuro, tenham cuidado ao subir as escadas. É para andar com calma, olhando bem para não tropeçar em nenhum fio e nem nos aparelhos".

Segundo Paulo Varella, o prédio da EMA foi construído na década de 60 pela Comissão de Construções Escolares do Município, que não levou em conta a funcionalidade do observatório. A preocupação foi mais estética, com o projeto arquitetônico, e é por isso que até hoje a cúpula prateada do terraço continua sem uso.

"Após a construção, chegou-se a abrigar um telescópio construído aqui mesmo no planetário, com 30 cm de abertura, mas isso só durou uns meses. O problema era que, quando passava um ônibus na avenida República do Líbano ou na Pedro Álvares Cabral, a cúpula tremia." O projeto original não previa a instalação de uma coluna de concreto junto ao solo, independente da estrutura do edifício, para isolar o telescópio de vibrações.

Hoje, a administração da escola tenta pelo menos reativar a cúpula para as atividades com o público. "Seria interessante se, no futuro, a gente pudesse ter essa coluna. Isso é um trabalho de engenharia, porque vai ter que furar esses dois pisos pra colocá-la - isso se houver realmente a intenção de transformá-la numa cúpula observacional. Porque, se for só para uso didático, acho que podemos improvisar alguma coisa", garante Varella, que pensa em instalar calços de borracha nos pés do telescópio para amortecer vibrações externas, à maneira do que é feito nas Star Parties americanas, famosos encontros de astrônomos amadores.
"Seria uma tentativa. Se não der certo, podemos tentar outra coisa: montar a base de concreto do telescópio em cima de um colchão de areia. A areia é um material não consolidado e entremeado de ar, que não transmite vibrações e até ajuda a absorvê-las." Numa demonstração de otimismo, o grupo já faz reparos na abertura da cúpula.

Por enquanto, porém, as opções são mambembes. Orientados pelos monitores do planetário, os visitantes sobem à laje e fazem fila atrás de três telescópios ETX-125 EC, da marca Meade, cada um com 5 polegadas de diâmetro e controle eletrônico, no valor de 1,5 mil dólares. Há também um LX 200 da Meade, de 12 polegadas com GPS, que custa 7 mil dólares. Delicato especifica quais astros estarão visíveis em cada um deles. Em 2011, devido ao mau tempo, só houve três observações abertas ao público: em maio, agosto e dezembro.

No evento de agosto, com o céu de inverno a pleno vapor, os corpos observados foram a nebulosa planetária NGC 6302, também chamada de Nebulosa da Borboleta; a constelação de Scorpius (Escorpião), por onde passa o centro da nossa galáxia; e a estrela Antares, uma supergigante vermelha 700 vezes maior que o Sol. Pelo telescópio, dá pra ver que Antares é um sistema binário, ou seja, na verdade são duas estrelas.

Na observação de dezembro, às vésperas do Natal, os três telescópios foram apontados para o planeta Júpiter, com diferentes tipos de aumento. Foi possível distinguir as manchas do planeta, sua coloração alaranjada, algumas estruturas e suas quatro luas. Também houve uma breve observação de Achernar, estrela achatada e azulada que é a mais brilhante da constelação Eridanus.

Deparando-se com certa ansiedade e muxoxos esparsos, João Paulo Delicato insistiu que é preciso ter calma e concentração. "Não é como as imagens do Hubble que estamos acostumados a ver. Não é só encostar a cara no telescópio que as coisas saltam aos olhos e você vê Marte e os marcianos acenando. Depende de paciência e de uma certa delicadeza", observou. "Se for um planeta, você vai enxergar primeiro uma bolinha, depois um contorno e um detalhe ou outro. No fim das contas, essa manchinha que você viu tem milhões de quilômetros de diâmetro, está a centenas de anos-luz de distância e é na verdade uma coisa muito interessante cuja imagem levou um tempo enorme para chegar até nós. É importante ter isso em mente."

No fim da fila, um grupo de rapazes vestidos para a balada parecia alvoroçado com a experiência, ocupando-se em defender a existência de extraterrestres para o resto da fila. Um deles achava um erro terem enviado ao espaço uma sonda com informações sobre a Terra. "Os ETs vão pegar todos aqueles dados e invadir o planeta", afirmou, exaltado, na certeza de estar impressionando as meninas.

ASSOMBRO

Caminhando pelo parque, Paulo Varella consegue reconhecer de longe quem são os loucos que estudam na Escola de Astrofísica: aqueles que olham mais pra cima do que pra baixo. E tropeçam. Certa noite, ele mesmo carregava uma caixa de equipamentos e quase foi ao chão, preocupado em sondar o céu à procura de Vênus.

Ministrado no planetário com o auxílio do projetor, o curso de número 637 - Reconhecimento do Céu 1 - é o mais procurado da instituição. Muitas vezes, as 120 vagas se esgotam. No segundo semestre do ano passado, 76 pessoas se inscreveram.

As aulas aconteceram às terças-feiras, das 19h30 às 21 horas, com uma turma vespertina às quintas-feiras formada pelos ex-alunos de Astronomia Geral. Aula a aula, todos procuravam se sentar nos mesmos lugares para facilitar a memorização - menos uma vez, em outubro, quando o projetor "deu chilique" e não estava funcionando devidamente, projetando o norte no sul e gerando outras imprecisões espaciais. A questão foi resolvida com a expertise de Varella na arte do improviso: ele desligou as letras verdes dos pontos cardeais e pediu que os alunos trocassem de lugar. "Finjam que o leste é pra cá", orientou, pedindo perdão pelo despautério da proposta.

Vez ou outra, o aparelho sofria panes menores ou saía de esquadro, e aí valia o conhecimento bruto do professor, que corrigia manualmente os problemas e botava a turma (e o aparelho) de volta no eixo. Em várias ocasiões, ele foi capaz de continuar a aula normalmente, falando sobre coisas complicadíssimas "enquanto, com um martelo e uma talhadeira, vou tentando consertar o projetor". Para os íntimos, o StarMaster é também chamado de "A Bolinha".

Reparos também são necessários no caso da esfera armilar instalada diante do planetário, uma estrutura giratória de ferro que permite a visualização espacial do movimento celeste, tendo como referência a cidade de São Paulo. Executada por um artista plástico, ela apresenta imprecisões de nomenclatura que precisam ser corrigidas verbalmente pelo professor. Além disso, só pode ser destrancada com antecedência - por segurança, a esfera é presa por um cadeado e correntes, já que uma criança "quase perdeu o braço girando ali dentro".

Também têm problemas os planisférios impressos pela Prefeitura em 2005 para a inauguração do planetário do Carmo, distribuídos gratuitamente aos alunos no final do semestre. Por algum motivo, o leste e o oeste foram assinalados no lugar errado, a muitos graus de distância de sua localização efetiva, como se os diagramadores houvessem tentado "centralizar" as legendas.

No interior da cúpula, a dinâmica das aulas era sempre a mesma: uma explanação teórica no início, com as luzes acesas, e depois o fechamento das portas, o breu e as estrelas surgindo garbosamente no céu. Mesmo na última aula, quando a turma já deveria estar acostumada, ouviam-se expressões de assombro seguidas de um silêncio quase religioso, sobretudo quando as estrelas mais fracas, de quinta ou sexta grandeza, terminavam de preencher a abóbada.

Paulo Varella falou orgulhoso do alemão Johannes Bayer, advogado de formação e astrônomo amador que inventou a atual nomenclatura estelar. Seguindo a ordem decrescente de brilho, pega-se uma letra do alfabeto grego e junta-se à forma genitiva da constelação em latim, o que resulta em nomes como Alpha Centauri (a estrela mais brilhante da constelação de Centaurus) e Eta Carinae (a quinta estrela mais brilhante de Carina), que está prestes a explodir e virar supernova. "Se a Terra estiver no caminho, estamos perdidos", comenta um dos professores da Semana de Radioastronomia.

Já as cores das estrelas estão diretamente relacionadas às suas temperaturas superficiais. As mais quentes são azuis (Rigel, Achernar), e, em ordem decrescente de calor: brancas (Vega, Sirius), amarelas (nosso Sol, Capella), alaranjadas (Arcturus, Aldebaran) e vermelhas (Antares, Betelgeuse).

A cada aula correspondeu um modelo de céu e sua respectiva constelação-símbolo: em pleno inverno, começamos pelo céu de verão, o mais simples, que entrou em campo com Orion, as Três Marias e Sirius, a estrela mais brilhante do céu noturno. Depois passamos para o céu de outono (constelações Leo e Crux), inverno (Scorpius) e primavera (Pegasus). Varella iniciava a projeção recapitulando as aulas anteriores e agregando uma ou outra novidade, de modo que, lá pelas tantas, a crença geral era de sairíamos confusos o bastante para estranhar a própria Lua.

Porém, aos poucos, as coisas foram se encaixando. Incentivado por um chilique permanente do projetor, Varella não ativava os desenhos artísticos das constelações (linhas imaginárias que ligam as estrelas), limitando-se a apontar suas respectivas formas com a caneta laser para que os alunos as visualizassem mentalmente.

A todo instante, lembrava que os desenhos saíram da imaginação dos antigos e que não faziam necessariamente sentido. "Alguém aí está conseguindo ver um homem vertendo água de uma ânfora? Parabéns, porque eu não vejo nada", comentou sobre a constelação de Aquarius. Ou: "Não dá pra saber se isso é cavalo, peixe, borboleta ou princesa."

Foi assim que, para muitos, a constelação Piscis Austrinus passou a ser imediatamente reconhecida sob a alcunha de Pimentão Celestial, e Sagitarius virou Bule de Chá, para fins didáticos. Em Eridanus há uma curva de estrelas com um perturbador formato de panetone, aclamada pela turma como O Bolsão do Panetone (a maioria dos alunos não havia jantado). Já Canis Major parecia um cão bassê com as patas dianteiras num galope celestial. Muito repetido foi o trocadilho "no meu tempo, havia láctea", um sucesso até entre os alunos repetentes.

"No final da aula, lá pelas nove, nos reuníamos na rosa-dos-ventos, ao ar livre, para tentar caçar as poucas estrelas que apareciam no céu", conta Nicol Alexander Alfaro, jovem chileno radicado no Brasil que se formou em engenharia elétrica, mas largou tudo para estudar produção audiovisual. "A maioria das vezes estava nublado, uma vez ou outra o céu um pouco mais aberto, mas só conseguíamos ver umas poucas estrelas. O Paulo, com aquela precisão e sotaque característicos, apontava seu raio laser para uma estrela solitária e sentenciava: 'Aquela é RRRRigel'". E era mesmo.

BLECAUTE

Ao ar livre, os caçadores de estrelas do curso quase nunca tinham sorte. Ainda mais no último ano, depois que o Parque do Ibirapuera ganhou um sistema de iluminação 350% mais potente do que o anterior.
Sem consultar a Escola de Astrofísica, a administração trocou as lâmpadas tradicionais de vapor de sódio ou mercúrio por lâmpadas LED de 113 watts, que emitem luz branca. As bases de 13 metros também foram reduzidas para 5 metros de altura, para que as copas das árvores não interferissem na projeção de luz. A troca do sistema custou 11 milhões de reais, compartilhados entre Eletropaulo e o Departamento de Iluminação Pública de São Paulo, o Ilume.

A medida visava melhorar a segurança do parque, mas, para os astrônomos da EMA, foi como um assalto à mão armada. "A poluição luminosa é a maior inimiga da observação", sentenciou o diretor do planetário, enquanto regulava um telescópio.

Mesmo com um céu sem nuvens e os aparelhos de alta precisão espalhados sobre a laje, era difícil obter um bom horizonte de observação. A iluminação ultra potente deixava o céu esbranquiçado, opaco, sem contraste. Inadequada, desperdiçava boa parte da energia para cima, ofuscando o céu e a terra. "Inclusive já é possível fazer cirurgias lá na calçada", informou Paulo Varella.

Na rosa-dos-ventos, após as aulas, ele instruía os alunos a taparem com as mãos as lâmpadas mais próximas. A cena era surreal: uma dezena de pessoas agrupadas no meio do nada, com as mãos estendidas em posições aleatórias, olhando para cima. "Haja estilingue", brincou o professor, que desde então procurou convencer a administração do parque a instalar um interruptor para apagar as lâmpadas em torno do planetário, nem que fosse só no horário das aulas.

Há alguns meses, o problema foi resolvido. Agora é possível apagar as luzes no entorno do edifício da EMA, o que melhora muito as observações na laje. Além disso, foi instalada uma iluminação mais direcional nos postes. Foi um avanço, mas ainda há muito a fazer. "É por isso que a gente ama blecaute", o professor resumiu.

Para além dos esforços em adequar a iluminação, Varella afirma que tentou instalar um posto de observação no jardim da escola, às margens do lago, próximo ao chamado Patódromo - praça circular que à tarde é invadida por patos e à noite cai numa relativa escuridão. A ideia era distribuir pelo espaço três pequenas cúpulas fixas para os telescópios ETX, recém-doados pela Fundação Vitae. "Cada cúpula teria no máximo uns 2 metros de altura e 1,80 metro de diâmetro, só pra abrigar o instrumento e evitar que, a cada observação, tivéssemos que transportá-lo e montá-lo. Sobretudo porque são aparelhos delicados e pesados, de uns 55 kg cada, que podem ser descolimados com facilidade."

Ele encaminhou o projeto ao Condephaat, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, que negou o pedido. A justificativa? "Quebraria a ambiência do parque." Além disso, Varella descobriu que o parque inteiro fora tombado, não só os edifícios como o projeto paisagístico, e por isso não se permitem novas construções.

Em matéria estelar, a sonolência generalizada do poder público não é novidade. Em 1952, o prof. Aristóteles Orsini encomendou um projetor de última geração da Alemanha (o Zeiss 3) e deu início aos trabalhos para a construção do primeiro planetário paulista, no Ibirapuera, a ser inaugurado no quarto centenário da cidade. Após passar um tempo retido na alfândega, o aparelho ficou encaixotado no Viveiro Manequinho Lopes à espera do término da construção do edifício. A inauguração se deu em 1957, três anos depois do previsto.

O mesmo ocorre ainda hoje com o planetário do parque do Carmo, em Itaquera, fechado há cinco anos. O milionário projetor Universarium 8, da Zeiss, foi adquirido em 1996 e ficou encostado num depósito por quase uma década. Bancado pela Telefônica, o edifício em si começou a ser construído em 2002, com uma cúpula de 20 metros de altura - maior que a do Ibirapuera. Já nessa época, devido à prolongada inatividade, o projetor precisou de reparos e foi enviado de volta a Alemanha.

A inauguração ocorreu em novembro de 2005, três anos e 11 milhões de reais depois. Contudo, em fevereiro de 2007, o edifício começou a apresentar goteiras e rachaduras e foi fechado para reformas. Por conta da umidade, os equipamentos voltaram a apresentar problemas.

Em junho do ano passado, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente manifestou-se sobre o assunto para um jornal da Zona Leste. Declarou que a Prefeitura estaria "viabilizando trâmites para a compra das peças avariadas do projetor" e que "todas as medidas formais estão sendo tomadas para que o planetário volte a funcionar o mais rapidamente possível".

Nas últimas semanas, o projetor voltou a funcionar e houve algumas sessões experimentais para escolas. A reabertura oficial do Planetário do Carmo não deve demorar.

FREITAS

Quando o assunto é telescópio ou binóculo quebrados, a senha é "Passa no Freitas", acompanhada de um misterioso número de telefone. De cabelos grisalhos, olhos castanhos e voz grave, Roberto Freitas conserta e monta aparelhos ópticos em sua garagem, numa bucólica casa de vila no Cambuci.

É formado em administração de empresas com pós-graduação em marketing. Trabalhou na Victorinox, fábrica suíça de materiais de cutelaria, até que, há dez anos, decidiu pedir um afastamento para dedicar-se integralmente à construção e manutenção amadora de telescópios. Batizou seu empreendimento de Razão Focal. "Eu acho que sempre fui um astrônomo", confessou, enquanto examinava um binóculo SkyMaster da marca Celestron, de 15x70 milímetros.

O cliente que procura seus serviços ópticos já chega avisado de que deve reservar uma tarde inteira para a visita, pois Freitas adora conversar. Ainda que esteja acostumado a colimar (alinhar) um instrumento em poucos minutos, ele gasta o resto do tempo falando de seu assunto preferido: astronomia amadora. "Já me chamaram de lunático, de professor Pardal, dizem que vivo no mundo da Lua", admite.

De saída para assistir a uma palestra sobre espelhos metálicos no 14o Encontro Nacional de Astronomia, o ENAST, na qual basicamente pretendia discordar de tudo o que fosse dito, ele convida os visitantes a voltarem com mais calma em uma noite de céu limpo. "A gente faz um pão de queijo e brinca com este telescópio", diz, referindo-se a um modelo que ele mesmo montou a partir de peças avulsas.

Freitas não se considera um comerciante e nem se preocupa com o lucro. Gosta de despertar o interesse pela ciência e compartilhar conhecimentos. Sua área de interesse aumenta a cada dia, conforme ele navega na internet em busca de novidades, participa de fóruns e manipula uma infinidade de lentes, adaptadores, tubos de foco e tripés, abarrotados em caixas de papelão nas estantes.

A REVANCHE

"A astronomia é uma experiência de humildade e formação de caráter", escreveu o cientista Carl Sagan em Pálido Ponto Azul. Embora seja uma ciência complexa e intimamente ligada à física e à matemática, ela costuma cativar as pessoas pelo seu aspecto humanista. Numa matéria sobre o Ano Internacional da Astronomia (2009) para a revista da Livraria Cultura, o engenheiro químico Tasso Napoleão descreve o processo: "Primeiro vem o deslumbramento. Depois, aquela sensação de que não passamos da 'mosquinha no cocô do cavalo do bandido'."

A personal trainer Ana Maria Pereira concorda: "Para mim, as aulas foram uma terapia. Aprendi a ver como tudo é grandioso e que podemos passar o resto de nossos dias descobrindo coisas, se quisermos".
Outra coisa que atrai os amantes da astronomia é saber que, em cada ponto do céu que observamos, há um passado diferente. A luz de Alpha Centauri, por exemplo, saiu de lá em novembro de 2007. A de Beta Centauri, em fevereiro de 1522, pouco depois do Descobrimento do Brasil. Paulo Varella costuma dizer que o telescópio Hubble não é só um instrumento óptico, mas um verdadeiro observador do passado, pois suas imagens captam a história longínqua do universo.

"Os números astronômicos são tão gigantescos que olhar para toda a história da civilização é como lembrar de um pequeno espirro ocorrido alguns segundos atrás. Essa sensação é ao mesmo tempo aterradora e libertadora", filosofa um dos alunos, que por humildade não quis se identificar.

Já para Nicol Alexander, o melhor de tudo foi passar horas mergulhado na cadeira, olhando para aquela abóbada. "Mais para o final do curso, estudamos o movimento dos planetas, então o professor acelera o tempo para que tenhamos uma percepção mais clara do processo. Dá até vertigem olhar para as estrelas. Vemos um ano passando em segundos, acompanhamos a dança de Mercúrio, as mudanças da Lua", lembra.
Ele diz que gostaria de fazer os cursos de Reconhecimento do Céu 2, 3 e 4, e "até os confins do Universo conhecido". Sexta-feira passada encerraram-se as inscrições para o tão sonhado "Reconhecimento do Céu 2 - A Revanche", que vai acontecer às terças-feiras à noite, de 9 de outubro a 13 de novembro. Ainda não há previsão para o "Reconhecimento do Céu 3 - A Fronteira Final".

Acessível a curiosos com todo tipo de formação, a astronomia desdenha da nossa arrogância e da ilusão de que estamos numa posição privilegiada do Universo. "Nosso planeta é um grão solitário na vasta escuridão cósmica", definia Carl Sagan. Diante de grandezas assim inconcebíveis, nossas preocupações e angústias caem fatalmente no ridículo. Nas palavras de Sagan: "Não há, talvez, prova maior da tolice das vaidades humanas do que essa imagem distante de nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratar melhor uns aos outros e de preservar e estimar o único lar que conhecemos."

Não há dor nas costas e desilusão amorosa que resista a uma boa aula no planetário.




sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Invasão dos Tablets


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Jska Priebe



Mulheres da ficção científica em "Suite of Seven", por Jska Priebe






terça-feira, 10 de abril de 2012

Nyan Cat Space Rock




Nyan Cat.

Versão Via Coilhouse.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Muse




Starlight

Far away
This ship has taken me far away
Far away for the memories
Of the people who care if I live or die

Starlight
I will be chasing the starlight
Until the end of my life
I don't know if it's worth it anymore

Hold you in my arms
I just wanted to hold
You in my arms

My life
You electrify my life
Let's conspire to ignite
All the souls that would die just to feel alive

I'll never let you go
If you promise not to fade away
Never fade away

Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my Arms
I just wanted to hold
You in my arms

Far away
This ship has taken me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die

And I'll never let you go
If you promise not to fade away
Never fade away

Our hopes and expectations
Black holes and revelations,
YEAH!
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my Arms
I just wanted to hold
You in my arms




Supermassive Black Hole


Ooh, baby, don't you know I suffer?
Ooh, baby, can't you hear me moan?
You caught me under false pretenses
How long before you let me go?

Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the supermassive
[ooooh-ahhh, you set my soul a-light]

Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the...
[ooooh-ahhh, you set my soul...]

I thought i was a fool for no one
But, ooh, baby, I'm a fool for you
You're the queen of the superficial
But how long before you tell the truth?

Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the supermassive
[ooooh-ahhh, you set my soul a-light]

Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the...
[ooooh-ahhh, you set my soul...]


Supermassive black hole (4x)

Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the supermassive

Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the supermassive

Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Ooooh-ahhh, you set my soul a-light
Glaciers melting in the dead of night
And the superstars sucked into the...
[ooooh-ahhh, you set my soul...]

Supermassive black hole(4x)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Electric Eye







Up here in space
Im looking down on you
My lasers trace
Everything you do

You think youve private lives
Think nothing of the kind
There is no true escape
Im watching all the time

Im made of metal
My circuits gleam
I am perpetual
I keep the country clean

Im elected electric spy
Im protected electric eye

Always in focus
You cant feel my stare
I zoom into you
You dont know Im there

I take a pride in probing all your secret moves
My tearless retina takes pictures that can prove

Im made of metal
My circuits gleam
I am perpetual
I keep the country clean

Im elected electric spy
Im protected electric eye

Electric eye, in the sky
Feel my stare, always there
Theres nothing you can do about it
Develop and expose
I feed upon your every thought
And so my power grows

Im made of metal
My circuits gleam
I am perpetual
I keep the country clean

Im elected electric spy
Im protected electric eye

Protected. detective. electric eye


(O original é do Judas Priest. Mas há uma cover do As I Lay Dying. Imagem do Metropolis of Tomorrow)


P R O J E T O P O R T A L B L O G F E E D